Você se lembra de ter sonhado alguma coisa na última noite? E nas noites passadas? Antes do isolamento social, você lembrava com facilidade dos seus sonhos na manhã seguinte ou era mais difícil?
Não é raro encontrar alguma pessoa relatando que teve um sonho diferente (que pode até ser considerado estranho) ou mais vívido nos últimos meses. Talvez, a drástica alteração em nossas rotinas causada pela pandemia passou a permitir que sonhemos com uma intensidade maior e assim, as lembranças na manhã seguinte ainda permanecem “frescas” em nossa mente.
Caso você mesmo esteja relatando esses sonhos ou tenha percebido que diversas pessoas a seu redor estejam vivenciando essa situação, pode ficar tranquilo pois não se trata de nenhuma espécie de teoria da conspiração ou delírio coletivo: a ciência consegue explicar esse fenômeno com facilidade.
A ciência e os sonhos durante a quarentena
O primeiro motivo apresentado para que isso aconteça está relacionado ao sono REM. Mas você sabe o que quer dizer essa sigla? A expressão é original do inglês e significa “Rapid Eyes Movement” (movimento rápido dos olhos).
Durante essa fase do sono, sua atividade cerebral é similar a quando você está acordado. O sono REM acontece em ciclos que variam entre 90 e 120 minutos de duração e que podem se repetir algumas vezes durante a noite. É exatamente durante esses ciclos que os sonhos mais vívidos ocorrem.
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Mas qual é a relação entre o sono REM e a situação atual? A pandemia alterou a rotina de diversas pessoas e isso também significa que aconteceram mudanças na rotina do sono. Como muitos de nós estão dormindo mais, mais ciclos REM acabam ocorrendo, exatamente porque o tempo total de sono aumenta.
A possibilidade de acordar sem o auxílio de um alarme ou outro estímulo semelhante durante o sono REM é maior (uma curiosidade: isso é mais saudável do que despertar no horário que o despertador tocou), e quando isso realmente acontece, é mais fácil para nosso cérebro recordar o que estávamos sonhando.
Sonhos relacionados ao cenário atual
Também aumentou o número de relatos de pessoas que estão sonhando com assuntos diretamente relacionados ao coronavírus ou que tem vários pesadelos. A resposta para esses casos pode ser encontrada no estresse físico e emocional que enfrentamos durante a pandemia.
Recebemos diversas notícias sobre o assunto diariamente pela televisão, os amigos e familiares comentam o assunto nas redes sociais… Por isso, é normal que o tema também apareça em nossa mente durante a noite e a teoria da continuidade do psicólogo americano especialista em sonhos, William Domhoff, explica esse fato.
É comum ter noites ruins após tragédias, sejam elas coletivas ou pessoais. Nos meses que seguiram os atentados de 11 de setembro de 2001, uma professora associada de psicologia na Faculdade Merrimack (Massachusetts) realizou um trabalho com seus alunos, eu consistia em registrar diariamente seus sonhos em diários. A profissional comparou os relatos e levou em consideração a influência causada pela mídia nos sonhos dos estudantes.
Ela concluiu que, para cada hora que os alunos estiveram expostos ao assunto na televisão, a referências encontradas em seus sonhos aumentava em 6%. Eles chegavam a sonhar diretamente com torres, aviões e explosões mesmo quando não conversavam com ninguém sobre o assunto.
Paralelamente, se o aluno conversasse com alguém sobre o assunto durante o dia, os pesadelos não eram tão direcionados ao atentado. Dessa forma, a pesquisadora viu que o trauma causado era superado mais facilmente quando as pessoas externalizam sua angústia.
